O Bailado dos Morcegos com as Andorinhas

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Nas noites mais frias eu passo tempo admirando o lago que mora minha lembrança mais antiga.

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Acompanho o bailado dos morcegos com as andorinhas antes do crepúsculo chegar. Uma dança elegante. Aves e mamíferos sintonizados no amor aos céus. Andorinhas de dia. Morcegos de noite.

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Existe um momento de troca de ares. Os morcegos chegam pra ocupar o céu no início da noite e as andorinhas vão descansar. Muitas vezes eles vivem nos mesmos forros dos telhados. Fico curioso pra saber como é lá dentro. A natureza é uma dádiva.

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Apanho ideias das sensações. Sou arrebatado por músicas, por sonhos, por caminhadas infinitas.

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Devaneio palavras que me habitarão para sempre. Soltas nas bocas que cantam. Presas eternamente nas canções que encantam.

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Liberdade é catar conchas imaginárias na cidade.

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Debaixo da cidade. Infinitas existências. Rios, Túneis, montanhas, arquipélagos, florestas, rios e rios e rios de lágrimas, sons, sangues e mangues.

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De pequeno vivia num estado de euforia inexplicável. As madrugadas eram sensacionais.Ia dormir e o quarto escuro se transformava.

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Assistia um show de luzes, sentia movimentos incríveis. Orgasmos estelares vindo do desconhecido cosmos.

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Os anos passaram. As madrugadas foram ficando caretas. As luzes no quarto foram rareando. O encanto noturno diminuiu. De cinco pra seis anos de idade. Comecei a sentir medo. O medo trazido inconscientemente “ou não” pelos mais velhos. Medos ancestrais.

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A gente aprende o medo dos outros e o encanto desencanta e tende a ir embora.

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Por um tempo me senti abandonado pelas entidades de outras existências. Até que veio a primeira canção com seis anos e eu entendi que era justamente nela que estavam todas as luzes que me encantavam quando aqui cheguei.

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O amor nascido a flor da pele é cultivado para a eternidade. As luzes enigmáticas sobressaem sempre. Elas são de lua, nuvem, sol e elas choram também.

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Vez ou outra, essas luzinhas celestiais pousam nos meus ombros e então posso saborear a plenitude da minha conexão ancestral com as estrelas.

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Assim restabeleço a natureza celestial com a natureza terrena. Vivo toda a mitologia do cosmos com os pássaros. Com seus voos empolgantes, plumagens graciosas e exuberantes. Cantos místicos e melodias inatingíveis.

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Os pássaros encenam no terreiro celestial a maior peça de todos os tempos. Coreografias líricas. Canções que voam. Os pássaros são um portal para viver as noites em luzes astrais coloridas, delirantes e desconhecidas.

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Não tenha medo!